Números ainda revelam não só o quanto o país precisa avançar, mas também a importância da diversidade de gênero nas organizações
Desafios para o avanço da diversidade de gênero: Profissionais negros recebem 31% a menos do que profissionais brancos no mercado de trabalho brasileiro, conforme aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda que realidade do país já tenha sido pior em relação aos números da desproporcionalidade racial, ainda temos muito a avançar. Em 2021, também pelo IBGE, dos 30,2 milhões de brasileiros que recebem até um salário-mínimo por mês, quase 20 milhões são pessoas negras.
Os números nos ajudam a entender o quão séria e urgente é essa realidade e, portanto, o quanto as mudanças são necessárias.
Por isso, no texto de hoje falaremos sobre diversidade de gênero e racial no contexto histórico brasileiro, desafios no mercado de trabalho para mulheres negras e a importância de enfatizar o tema nas empresas. As informações a seguir são baseadas na apresentação que a Fernanda Augusto, líder do grupo étnico-racial da NTT DATA Brasil, fez a um dos encontros do programa BeeWoman.
O que é racismo?
Excluir, discriminar ou distinguir alguém devido sua cor de pele ou qualquer característica física e étnica é considerado racismo. O artigo 1º do Estatuto da Igualdade Racial elucida como “toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública ou privada”.
Racismo estrutural
Está aí um tema dentro do escopo “racismo” elencado como um dos mais importantes para sairmos do entendimento superficial. O racismo estrutural é tão intrínseco em nossa sociedade, remontando desde o século 16 durante o período do escravismo, que muitas pessoas não o enxergam.
Racismo estrutural é, portanto, o enraizamento histórico do preconceito na sociedade em vertentes políticas, econômicas, culturais e até mesmo nas relações cotidianas. Vamos exemplificar algumas das principais realidades que exemplificam esse fato:
▪ Constituição de 1934 que defendeu a eugenia;
▪ Migração massiva de pessoas negras para as periferias das grandes cidades e, posteriormente, a organização desses grupos em cortiços e favelas.
▪ Negro livre, mas sem acesso à terra e educação. Falta de políticas públicas que visam a igualdade;
▪ Fortalecimento de teorias raciais, políticas de “embranquecimento” e Leis de incentivo para trazer imigrantes europeus ao Brasil;
▪ População negra compelida a atuar em trabalhos mal remunerados.
O panorama brasileiro
O racismo no Brasil remonta desde a origem do território brasileiro ainda em 1500, durante a implantação da escravidão, com o colonizatório iniciado pelos portugueses. Como marco, é considerado início o primeiro navio que atracou em Salvador com negros escravizados, no ano de 1535.
O regime escravocrata durou 353 anos, só terminando depois da implementação da Lei Áurea, em 1888. Atualmente, embora existam datas e uma linha do tempo com diversas medidas que visam combater o racismo no país, ainda há muito o que evoluir nesse sentido. Afinal, as pessoas negras ainda são excluídas de diversas esferas da sociedade e os números reforçam isso.
A realidade do racismo e das desigualdades sociais é pulsante quando vista analiticamente.
Dados de 2019 mostram a discrepância racial em diferentes áreas da sociedade. Confira:
▪ Mercado de trabalho: Gerentes – 6,3% negros | Presidentes – 4,9% negros;
▪ Desempregados: 64,2% negros;
▪ População carcerária: 60% negra;
▪ População brasileira: 56,10% negros (pretos e pardos);
▪ Renda per capita: Negros – R$ 934 | Brancos – R$ 1.846;
▪ Homicídios: 75,5% negros;
▪ Pobreza: 64,9% negros;
▪ Ensino superior: pela 1ª vez, 50,3% negros;
▪ Feminicídio: 61% negras.
Os desafios da mulher negra no mercado de trabalho
O racismo no Brasil é ainda mais evidente quando olhamos para a presença de mulheres negras no mercado de trabalho. A menor participação desse grupo é expressamente vista nos índices de desemprego divulgados por órgãos oficiais.
Mulheres negras apresentam a menor taxa de participação em comparação aos demais grupos demográficos. Dados da Faculdades de Campinas (FACAMP) mostram que entre os anos 2016 e 2019, essa taxa era de aproximadamente 52%, ficando ainda mais baixa em 2020 com 45,6%, pior número nível desde 2012.
Além disso, a realidade em números revela que as mulheres negras foram as que apresentaram maiores taxas de desemprego: 17,3% no 1º trimestre de 2020, 19,2% no 4º trimestre de 2020 e 21,4% no 1º trimestre de 2021.
O preconceito e a discriminação são aparentes quando olhamos de forma analítica por meio de dados, trazendo à tona, mais uma vez, o quão desafiador é o mercado de trabalho para as mulheres negras.
Seis atitudes para você fortalecer o combate ao racismo
Dicas da nossa palestrante Fernanda Augusto:
1. Rompa com os silêncios
É necessário se incomodar! Questione onde estão os negros nos lugares onde você frequenta e ocupa.
2. Dê espaço, visibilidade e protagonismo aos grupos menorizados
É importante que grupos dominantes na sociedade também apoiem a luta contra o racismo. Dê espaço e fortaleça o trabalho de mulheres / mulheres pretas.
3. Enxergue a negritude
Não use o argumento “eu não vejo cor”. O problema não é a cor, mas seu uso como justificativa para segregar e oprimir.
4. Reconheça os privilégios da branquitude
Uma pessoa branca deve pensar e entender os privilégios que acompanham a sua cor. Não é correto entender como algo normal ou considerar apenas uma questão de esforço próprio.
5. Transforme seu ambiente de trabalho
Comitês de diversidade são muito eficientes. Introduza o tema no ambiente onde você trabalha. O envolvimento do RH e da alta gerência é fundamental nesse processo.
6. Fale sobre o assunto com crianças
Rompa com a visão hierarquizada do branco e do negro. Cobre das escolas o ensino da história africana e afro-brasileira.
Por que investir em diversidade na sua empresa?
O respeito às diferenças promove bem-estar, empatia e engajamento, além de resultar em relacionamentos muito mais saudáveis e maior produtividade no ambiente do trabalho. Outro ponto fundamental é a redução de conflitos. De acordo com uma pesquisa da Harvard Business, os conflitos em empresas que apoiam a diversidade chegam a ser reduzidos em até 50% em comparação àquelas que não investem em diversidade.
A valorização das diferenças impacta em efeito cascata nos vários aspectos colaborativos e refletem em muito mais comprometimento dos colaboradores. A empresa de consultoria McKinsey & Company afirma que organizações com índices altos de diversidade de raça têm 35% mais probabilidade de obter resultados acima da média do seu ramo. Ainda segundo a empresa, equipes diversas geram maiores níveis de inovação e colaboração.
Pelo ponto de vista da Edelman, agência global de comunicação, 83% dos consumidores reconhecem as boas causas e estão dispostos a apoiar marcas e empresas que possuem este engajamento.
Diversidade de gênero e racial traz à tona muito além de reflexões, mas ações, atitudes e culturas que precisam urgentemente de mudanças, seja no âmbito político, social ou econômico.
As formas de discriminação estão introjetadas na sociedade e, por essa razão, o movimento de mudança necessita de força e constância de forma plural.
Nesse contexto, promover agentes de mudanças, novas políticas públicas e ações inclusivas são mais do que necessárias e eficientes.